Caros colegas,
Encerrando este caso, agradeço a todos que mandaram comentários. Respondendo a alguns esta paciente não apresentava distúrbios psiquiátricos ou tricotilomania.
Ao receber esta biópsia gástrica, onde tal corpo estranho era visto em vários dos fragmentos enviados para exame, reportei-me às informações clínicas. Havia história de ingestão de PEQUI (pequiá, amêndoa de espinho) há 15 dias, durante viagem de turismo ao centro-oeste do Brasil. Outros nomes da fruta são almendro (espanhol), pekea (inglês), arbre á beurre (francês).
Nesta mesma época, as emissoras de televisão, revistas e jornais divulgavam uma reportagem interessante: O senador Saturnino Braga, que adiou a apresentação do relatório do processo sobre a violação do painel do Senado, passou por maus bocados (literalmente) em sua visita a Pirenópolis, em Goiás. Após experimentar a galinhada com pequi num jantar do seu partido político, ele acabou com a boca ferida. Desavisado, Saturnino mordeu a fruta, cujo caroço tem espinhos, e contou com a ajuda de uma enfermeira para tirá-los com uma pinça
(
FOTO_5)
Como eu nunca vi um espinho de pequi, não tive condições de afirmar, no laudo histopatológico, a etiologia específica da lesão gástrica, e considerei tratar-se de uma gastrite reativa a corpo estranho, com muito pouca reação inflamatória. As imagens que foram mostradas neste fórum foram inseridas no laudo e, em conversa com o clínico que, como eu, nunca tinha visto espinhos de pequi, considerei tratar-se de mais um "acidente" decorrente da ingestão inadvertida do caroço da fruta.
Sobre o
pequi, consegui alguns trechos na internet e solicito aos colegas que conhecem os espinhos da fruta que se manifestem. Seguem alguns aspectos curiosos e algumas imagens inseridas pelo colega Celso (
FOTO_6 e
FOTO_7).
O Pequizeiro, árvore da família das cariocáceas (Caryocar brasiliense)(
FOTO_8) é característico do Estado de Goiás, embora seja encontrada também nos Estados de Rondônia (ao leste), Mato Grosso, Mato Grosso do Sul (no nordeste), Minas Gerais (norte e oeste), Pará (sudoeste), Tocantins, Maranhão (extremo sul), Piauí (extremo sul), Bahia (oeste) e Distrito de Federal.
Atualmente é a fruta utilizada das mais variadas formas: cozida, no arroz, no frango, com macarrão, com peixe, com carnes das mais variadas, no leite, e na forma de um dos mais afamados liquores de Goiás, ao lado do saborosíssimo liquor de Jenipapo; seu grande atrativo, além do sabor, são os cristais que se formam na garrafa, que dizem, são afrodisíacos.
Comer pequi além de saudável e agradável, é uma ciência, quase uma arte: a polpa macia e saborosa deve ser comida com cuidado, uma vez que esta cobre uma camada e terríveis espinhos, que, se mordidos fincam-se sem piedade na língua e no céu da boca, provocando dores irritantes e levando o infeliz ao hospital. O sabor vale porém, o risco; além disso, com o tempo, qualquer um domina a técnica.
Segue outra dúvida. Em sendo realmente espinhos de pequi, este achado caracteriza um fitobezoar? Os fitobezoares são definidos como massas compactas de fibras, cascas, sementes, folhas, raízes e caules de plantas, incompletamente mastigados, vistas na luz do estômago ou intestinos. No caso ora apresentado a endoscopia não revelava conteúdo estranho na luz gástrica.
Muito grata,
Ana Maria Ramos
Natal - RN
Brasil